5 de março de 2010

Coldplay tornou-se avatar de suas próprias emoções

Chris Martin canta melhor que 99% dos seus concorrentes, toca bem teclado, piano, gaita e violão, corre como um galgo durante duas horas no palco e suas músicas estão entre as mais assobiáveis do universo pop contemporâneo. Então por que tanta gente torce o nariz para Chris Martin? A resposta estava evidente no show do grupo de Martin, a banda britânica Coldplay, na noite de terça-feira, para um Morumbi lotado (cerca de 65 mil almas estiveram no estádio, segundo a organização). Após 22 canções (e um remix), o resultado foi uma apresentação fria, sem emoção, marcadamente técnica e mimética.



Distante 7 anos da primeira vez que tocou no País, no Via Funchal, o Coldplay escorregou do artesanato pop para ser engolido pela grandiosidade de sua reputação. Para entreter arenas imensas, incorporou fogos de artifício e chuvas de borboletas de papel, rampas que levam a banda para sets acústicos no meio do público (coisa que o U2 usou muito na turnê Pop) e jogos de luzes e refletores estupefacientes.

Mas, ao fim de 2 horas, dá a impressão de que o Coldplay se tornou refém desse conceito, um Avatar de cassino (ou uma espécie de Cirque du Soleil do rock). É bom para retroalimentar o culto dos fãs, mas é prejudicial às mais bonitas baladas do grupo, que perdem em sentimento e entrega ? caso de God Put a Smile Upon Your Face, In My Place, Yellow e Clocks, tão conhecidas no planeta hoje quanto o Google ou o MySpace (que as disseminaram).

De Life in Technicolor, a primeira canção (que abre o álbum mais recente, Viva la Vida), à versão incongruente dessa mesma canção no final, foi um desfile de hits ? todos os discos do grupo são uma parada radiofônica. Mão boa para o sucesso, eles constroem crescendos formidáveis de bateria e teclado para finalizar canções simples, como Viva la Vida (que Joe Satriani diz que é plágio de sua If I Could Fly, e Cat Stevens diz que é plágio de sua Foreigner Suite).

Chris Martin alcançou na noite de terça-feira a idade de Cristo, 33 anos. Foi saudado pelos colegas com um Parabéns a Você em português, cantado pelo baterista Will Champion (que também cantou uma versão acústica, ao violão, de Death Will Never Conquer). Martin poderia parafrasear os Beatles e dizer que sua banda, Coldplay, é hoje tão famosa quanto Cristo: é adorada por cristãos e muçulmanos do mundo todo, e seu disco mais recente, Viva La Vida or Death and All My Friends, tornou-se o disco com maior número de downloads do planeta. Não estaria tão longe da verdade.

Mas o show parecia mostrar uma banda refém de suas próprias profecias, mimetizando algo que um dia talvez tenha sentido. Ok, é claro que Martin preferiria estar em casa com a mulher, Gwyneth, e os filhos, mas fama e fortuna cobram seu preço. E havia casais que pagaram até R$ 1 mil para estar ali. Quando o Bat for Lashes tocava, parecia que não ia encher o estádio, mas ao começar o Coldplay, ainda tinha gente chegando e o Morumbi lotou. As imagens no telão eram impecáveis, mas o som só esteve bom mesmo na pista ? na arquibancada houve problemas. Noite fria, banda fria, público quente.

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